O que dizer

Lembre-se que você não pode resolver a situação sozinha. Você não está no relacionamento e por isso, não pode controlar o que acontece. Isso pode ser frustrante e pode te fazer sentir que não está fazendo nada para ajudar. Tente lembrar que apenas ouvir e apoiar sua amiga é uma das coisas mais importantes que você pode fazer para ela se sentir mais forte.

Dicas:

  • Faça ela sentir que não está sozinha! Embora seja inaceitável que isso esteja acontecendo, existem muitas pessoas que vivenciaram situações similares e deram a volta por cima.

  • Não coloque sua amiga pra baixo. Lembre-se que o abuso contra mulheres está presente em todos os grupos socioeconômicos e políticos. Todas nós estamos expostas a isso.

  • Lembre-se de que cada caso é único, mesmo que existam padrões similares de abuso em muitos relacionamentos abusivos. Não existem respostas ou maneiras universais para sair de um relacionamento abusivo. Respeite cada caso individualmente como ele é. Não compare a situação da sua amiga com uma situação diferente que possa banalizar a situação dela, ou fazê-la sentir que não está sendo levada a sério.

  • Deixe claro que você acredita nela. Nunca duvide de que sua amiga está dizendo a verdade ou que ela não pode confiar em você. Lembre-se de que é um grande passo contar para alguém que está vivendo um relacionamento abusivo. Você deve confiar na sua amiga e assim ela confiará em você.

  • Seja cuidadosa para não parecer julgadora ao expressar sua opinião. Por exemplo, não diga “Eu nunca imaginei que você deixaria uma situação como essa acontecer com você””

  • Não assuma que a violência ou abuso são mútuos. Essa suposição acontece particularmente em relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, porque muitas vezes acreditamos que uma similaridade em força física significa que o abuso mútuo seria mais provável. Essa lógica, é claro, está incorreta. Esteja atenta para qualquer suposição implícita que você fizer sobre isso. Não assuma que você sabe mais que sua amiga. Pessoas que estão sofrendo abuso tendem a se culpar e se diminuir. Se você expressar dúvidas, não estará ajudando.

  • Lembre-se que você não pode tirar sua amiga dessa situação sozinha. A pessoa que está em um relacionamento abusivo deve ser livre para sair de sua maneira e no seu tempo. Você pode se frustrar se ela continuar no relacionamento. Mesmo se ela continuar se colocando nessa situação, não a culpe e não tente forçá-la a uma rápida solução. Respeite sua amiga e o tempo que ela precisa. Não tente resolver a situação sozinha, somente sua amiga pode escolher fazer isso. A coisa mais importante a se fazer é se manter aberta e disponível para conversar.

  • Tente focar a discussão em como sua amiga se sente. Geralmente, pessoas que estão vivenciando abuso são culpadas pela situação e esse sentimento é dificilmente desfeito. Ajude-a a explorar seus sentimentos e entender que ela não está errada e não tem culpa.

  • Ajude-a a esclarecer e interpretar o que aconteceu. Faça com que sua amiga te conte sobre as vezes que o parceiro foi violento e abusivo. Peça a ela que conte quando ele foi controlador. Ajude-a a separar o fato do sentimento. Muitas vezes, as palavras “amor” e “paixão” são usadas para justificar qualquer tipo de comportamento.

  • Pergunte à sua amiga como você pode ajudá-la. Sua amiga pode saber que tipo de ajuda ela precisa de você. Não faça suposições sobre suas necessidades, pergunte primeiro.

  • Tente ajudá-la a explorar o desequilíbrio de poder que caracteriza os relacionamentos abusivos. Sua amiga sempre faz concessões para agradar o parceiro? O parceiro é tolerante? Sua amiga está mudando o comportamento dela para agradá-lo? Ela está evitando amigos que o parceiro não gosta? Ajude-a a entender e perceber que ela vai acabar abandonando sua própria identidade para tentar satisfazer o parceiro. Biderman’s Chart of Coercion (em inglês) é uma ferramenta útil para identificar abuso. Identificar relacionamentos abusivos pode ser particularmente difícil para as pessoas que se identificam como LGBTQIA+, porque o abuso nesses relacionamentos geralmente não seguem as narrativas que estamos acostumados a ouvir sobre abuso. O projeto Supernova Project (em inglês) mostra os contornos de como pode parecer o abuso em relações LGBTQIA+, e pode ser uma ferramenta útil para identificar abuso.

  • Não legitime a violência e o abuso. Embora você tenha que ser cuidadosa para não assustar sua amiga, você tem que reconhecer e nomear a violência e o abuso pelo que eles são. Nenhuma emoção pode nunca justificar violência ou abuso.

  • Deixe claro que a dependência química não é uma desculpa. O uso e abuso de álcool, drogas e medicamentos não é uma desculpa para violência ou abuso em nenhuma situação.

  • Nada é uma desculpa para comportamento violento! Embora isso possa explicar o comportamento de alguma forma, o passado traumático do abusador ou circunstâncias difíceis que tenha passado, nunca serão uma justificativa para o abuso ou violência.

  • Destaque as forças de sua amiga e as possibilidades abertas a ela. Muitas vezes as pessoas que sofrem violência e abuso se sentem impotentes e sobrecarregadas pela situação. Ajuda externa pode fazê-las se sentirem menos sozinhas e perceber que elas estão longe de ser sem valor, mesmo que o abusador tenha feito com que ela se sinta dessa forma. Ajude-a a entender que ela pode retomar o controle da situação e determinar o rumo de sua vida. Se ela sentir que não tem evidências suficientes do abuso para convencer sua família ou as autoridades, você pode checar o guia “Como construir seu caso de violência doméstica sem um advogado” (em português), que dá dicas e formas de coletar e apresentar evidências.

  • Se você achar que isso pode ajudar, leve-a a um centro de apoio a mulheres, ou à casa de alguém onde ela possa se sentir mais segura.

  • Ajude-a a encontrar uma residência alternativa, especialmente se ela precisar se afastar do parceiro ou se você acredita que ela está em perigo imediato.

Se você achar que isso pode ajudar, e se sentir confortável com isso, converse com ela sobre suas experiências com relacionamentos abusivos (se tiver). Isso pode ajudá-la a se sentir menos constrangida e envergonhada. Violência de gênero é um problema coletivo. Reconhecê-lo, compartilhar histórias e se apoiar é essencial para lutar contra isso.

Não diga

“O que? Eu estou ligando para meu primo e vamos resolver isso!”

“Ah não.. Sério? Ele parece tão fofo!”

“Ai meu Deus, você é sempre tão difícil!”

“Você tem sido burra.”

“E você não fez nada?”

“O que você estava pensando?”

“Eu nunca teria feito isso.”

Sobretudo: Não conte sobre a situação de sua amiga para ninguém sem o consentimento dela. Mesmo se você acha que está apenas tentando ajudar, é muito importante respeitar a privacidade dela. Sua amiga precisa confiar em você completamente.

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